Chapecó pela visão dos pedestres

Jane's Walk

Texto Gabriel Kreutz*


Pensar numa cidade pode envolver vários fatores, como trânsito e edificações. Mas sem as pessoas, nenhuma outra característica faz sentido. Para uma cidade ter seu potencial, ela precisa ter as pessoas na rua. "Quando a gente fala que mais de 70% das pessoas no Brasil estão caminhando, somando quem só anda a pé e quem utiliza o transporte público, quer dizer que mais de dois terços da comunidade está andando", conta a arquiteta e urbanista Nathalie Prado, coordenadora da Organização Social Cidade Ativa. Ela palestrou no sábado (04/05), durante o Festival Jane's Walk, organizado pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Unochapecó. O evento, que foi realizado pela primeira vez em Chapecó, ocorreu simultaneamente em mais de 200 cidades, de 37 países.

A arquiteta e urbanista Nathalie Prado falou sobre as cidades caminháveis

Após a conversa com a profissional, que atua em São Paulo com transformação de espaços e pessoas, os participantes, divididos em grupos, percorreram trajetos a pé em Chapecó e apontaram os principais pontos positivos e negativos da infraestrutura urbana para quem caminha pela cidade. "A atividade de observar as ruas é uma tentativa de olhar pela perspectiva do indivíduo, o que ele reconhece como atrativo, o que é um problema e o que poderia ser diferente. Essas impressões são importantes, principalmente para os estudantes que estão na fase de desenvolvimento profissional, pois eles começam a olhar com um pouco mais de cuidado estas questões. Isso incentiva eles a pensar nos espaços a partir das escalas do indivíduo quando estiverem atuando no mercado", ressalta Nathalie.

A arquiteta e urbanista conta que, cada vez mais, os profissionais deverão pensar em cidades caminháveis e mais compactas, com centros onde as pessoas consigam ter trabalho e moradia próximos e que o caminhar seja uma prática.

"Precisamos olhar para as pessoas não só nos lugares que elas estão ocupando, mas como elas estão usando isso como infraestrutura para deslocamento a pé. O que devemos fazer para essas cidades é olhar o quanto elas podem ter potencial de serem caminháveis e voltadas para as pessoas", destaca.

 

Resultados

Antes de saírem às ruas, os participantes tiveram uma palestra sobre o assunto e depois, acompanhados por professores, foram divididos em grupos e percorreram caminhos diferentes. Para avaliar os pontos que consideravam positivos e negativos em relação ao percurso, cada um recebeu um óculos com duas lentes. Para exemplos negativos, deveriam tirar uma foto com a lente vermelha, e para os positivos, a foto deveria ter a lente verde aparecendo. Após a caminhada, cada grupo elencou apenas um ponto positivo e um negativo para debater com o grupo.

Entre os pontos positivos destacados pelos participantes está o espaço público da praça Coronel Bertaso, no Centro, que é usado para prática de atividades físicas à população. Também foi destacado o núcleo do bairro Santa Maria, que se localiza em uma proporção plana, apresenta uso misto e atende a população com diferentes serviços. Tem ainda, boa estrutura viária, paver correto e edificações um pouco mais próximas da escala humana.

Como negativo, foi apresentado no bairro Maria Goretti, edificações que ocasionam falta de insolação e ventilação, o que deveria ser promovido pelos espaços entre as edificações para o bem-estar dos usuários pela proximidade dos edifícios em altura. Ainda, um ponto negativo encontrado foi o córrego do bairro São Pedro, que não possui Área de Preservação Permanente (APP) respeitada, prejudicando seu entorno e acumulando lixo.

 

Experiência enriquecedora

O evento, que ocorre no mundo todo, foi realizado pela primeira vez em Chapecó 

A atividade, que ocorre no mundo todo, surgiu em 2006 e é inspirada pelo trabalho de Jane Jacobs, jornalista, urbanista e ativista que defendeu as vozes das pessoas comuns no planejamento de bairros e na construção de cidades. Para o estudante do 6º período de Arquitetura e Urbanismo da Unochapecó, Luciano Perin, tanto a atividade quanto a história da homenageada chamaram muito sua atenção.

"Eu já li o livro dela, 'Morte e vida de grandes cidades', e ele aborda além do que projetamos e pensamos no curso, mas as questões sociais importantes para a construção de uma comunidade. É nesse contexto que entra para mim o Jane's Walk, uma caminhada pela cidade e um olhar crítico de comunidade para Chapecó, cidade que está se desenvolvendo cada vez mais e merece essa atenção de arquitetos e urbanistas", relata o estudante.

O grupo de Luciano saiu do Centro de Cultura e Eventos, passando desde residências mais precárias, próximas a córregos, até concretações de comércios e lojas.

"É gratificante poder sair pelas ruas e observar, com um olhar crítico, junto com colegas e amigos, as questões sociais que envolveram nosso percurso. Poder entrar em uma roda de conversa e discussão para entender como as coisas estão acontecendo e como deveriam estar, faz com que aguçamos o nosso olhar urbanista".

O acadêmico ressalta, ainda, que a prática de ir para a rua ver as coisas acontecendo só intensifica e melhora o processo de aprendizagem em sala de aula.

De acordo com a professora do curso, Gabriela Borges, nesta primeira edição foram quatro percursos de caminhada que possibilitaram discutir a cidade na perspectiva e no olhar do pedestre e pensar de forma coletiva. "O compartilhamento de diferentes olhares foi uma experiência muito bacana e somente foi possível pelo engajamento de todos que participaram. Avalio de forma muito positiva, pois conseguimos alcançar nosso maior objetivo, de pensar a cidade a partir do pedestre e com um olhar bastante atento às mudanças na paisagem urbana", conclui.

 

*Jornalista do Núcleo de Produção de Conteúdo (NPC) - Unochapecó

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