O trabalho de Audrian Cassanelli evoca uma experiência do corpo através de formas e construções díspares, nada casuais na figura: espelhamentos, coerência na composição nuances próximas e equilibradas. Um fator enriquece ainda mais a experiência visual proposta: o corpo prolonga-se através de materiais repletos de ar... Lufadas de vento percorrendo os tecidos vestidos neste corpo presente.

O sentimento de transcendência perpassa por muitas destas imagens, trazendo novos ares no modo de tratar das experiências profundas do ser com seus antepassados, com seus deuses. Penso estas imagens como novas composições sobre a relação do corpo (ser, como um todo) e a experiência que existe além dele – a respeito desta habitação passageira. Proposta formal que anuncia o sentimento contemporâneo de reafirmar, citar, reviver, de alguma forma, os mitos de criação.

As imagens de Audrian propõem um modo renovado de pensar nas relações entre os seres vivos entre si, e com o que lhes é externo. Sobre as trocas, sobre as doações. Acredito que a experiência, neste trabalho jamais encerrada num momento conclusivo, traz ao público destas obras a oportunidade de repensar e renovar os ritos ao lhe repetirem, talvez algumas, talvez inúmeras vezes. Pois a memória do corpo - se realmente verdadeira - possivelmente nunca deixe de existir de alguma forma.

 

Antonio Dante Acosta