O difícil caminho da Educação no país

Artigo do Reitor

A gestão da educação em nosso país vem sofrendo, e não é de hoje, um descaso e uma incoerência descabida. As autoridades não priorizam o tema em suas ações e o resultado disso é a situação cada vez mais difícil que a economia, a moral e a ética vem enfrentando em cada canto do nosso território. Com as frequentes mudanças de gestores à frente da pasta da Educação e do próprio país, a Educação é tratada de forma imediatista e mais recentemente com um foco totalmente comercial, o que trará sérias consequências para o desenvolvimento futuro da nação.

Há falta de uma política clara e estratégica que possa garantir uma caminhada evolutiva e formativa de nossos estudantes. Algumas situações atuais comprometem ainda mais o processo de estrangulamento do setor, com reflexos nos Estados e Municípios, como por exemplo, a redução orçamentária de bolsas de pesquisa da Capes, o processo de encolhimento do FIES, e no âmbito do estado catarinense, a tentativa de retirada de bolsas do Artigo 170 pela inconsequente PEC 53/2017 que visa transferir recursos públicos para Instituições privadas de Santa Catarina.

Para esclarecer melhor os três casos apresentados acima, o corte orçamentário apontado nas Leis e Diretrizes Orçamentárias (LDO/2019) condiciona recursos de forma que os 93 mil bolsistas da Capes deixem de receber suas bolsas após agosto de 2019. Pode-se dizer que afeta diretamente as condições em três importantes situações. Na pós-graduação, a suspensão do pagamento de todos os bolsistas de mestrado, doutorado e pós-doutorado. Na formação dos profissionais de Educação Básica, a suspensão dos pagamentos de 105 mil bolsistas, acarretando a interrupção do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid), do Programa de Residência Pedagógica e do Programa Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor). Na Cooperação Internacional, haverá prejuízo à continuidade de praticamente todos os programas de fomento da Capes com destino ao exterior.

Já na situação do FIES, com a recente alteração do Financiamento Estudantil, nenhuma das três modalidades apresentadas tem alguma aderência com as Instituições Comunitárias (ICES). Na modalidade um, a renda familiar é até três salários mínimos, com juro zero. No caso das Comunitárias esta faixa é atendida pelo Artigo 170 da Constituição Estadual. Na modalidade dois, somente é atendido o Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Eis aqui uma grande injustiça com regiões quase nunca atendidas, como a região do Oeste Catarinense que é alijada, em condições mais difíceis que algumas localidades atendidas das regiões de cobertura. Na modalidade três, a taxa de juros é variável e a renda familiar é até cinco salários mínimos. A Unochapecó, no entanto, possui opções de financiamento bancário com juros mais adequados que os que poderiam ser obtidos nesta modalidade. No FIES, outro grande problema diz respeito à participação solidária ao Fundo Garantidor (FGDUC), o que inviabiliza os custos dos projetos pedagógicos das ICES.

Por fim, a tentativa de retirar recursos do Artigo 170 das Instituições Comunitárias que vem tramitando na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina. Neste caso, é importante lembrar que as Fundações destas Instituições foram criadas por Lei Pública Municipal e seus bens em caso de dissolução passam para o município, portanto são públicos. Além disso, estas Universidades, na sua maioria, foram criadas há cerca de 50 anos ou mais e contribuíram efetivamente neste período com intervenções públicas de desenvolvimento em diversas áreas, podendo-se citar assistência social, cultura, esporte, arte, saúde, cidadania, entre outras.

Eis que atualmente, já equivocadamente, ao meu ver, se destinam 10% dos recursos públicos para Instituições Privadas, o que parece ser desacertado e, pasmem, a PEC 53/2017 visa paulatinamente acrescer de dez em dez por cento ao ano esse repasse, até que em 2021, 50% desses recursos entrem no caixa de Empresas Privadas de Educação. Não há como concordar com esta questão e entendo ser necessário abrir uma discussão do retorno destes 10% para as Instituições Comunitárias. Caso este Projeto de Emenda Constitucional seja aprovado, poderá comprometer a sobrevivência das ICES, estratégia em muito elogiada por outros Estados da Federação.

As situações aqui expostas mostram o difícil caminho da Educação no país. Temos pela frente um processo eleitoral e quiçá possamos, enquanto sociedade, expor nossa angústia e realizar o sonho de vermos a Educação no centro do planejamento futuro do Brasil, para o bem dos nossos filhos e das futuras gerações.

 

*Artigo escrito pelo reitor da Unochapecó, professor Claudio Jacoski

Compartilhe

ARTIGO

EDUCACAO

REITOR

REITORIA

SÃO LOURENÇO

UNIVERSIDADE

UNOCHAPECO

Nosso portal utiliza cookies necessários para o seu funcionamento e que permitem coletar dados anonimizados de navegação para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website, além de observar hábitos de visita, que permitem lembrar suas preferências. Os cookies podem ser estabelecidos por nós ou por fonecedores externos cujos serviços adicionamos às nossas páginas. Além dos cookies, estão habilitados plugins de determinadas redes sociais que poderão tratar seus dados quando você optar por acessar o nosso site por meio delas.