Professora Eliane Fistarol é homenageada com nome de galeria

Fotojornalista

texto: Schaiane Bohn, Carla Andressa Pereira e Emilly Bueno *

 

"Artista, mulher e ser humano que deixou um importante legado para o Oeste." Essas foram as palavras usadas pelo coletivo da Nossa Maloca para descrever Eliane Fistarol. No dia 1º de abril ocorreu o 'Serão na Roça na Maloca' para a inauguração de uma galeria de arte que leva o nome da fotojornalista.

Eliane foi coordenadora do curso de Jornalismo por dois mandatos, e também docente nas áreas de fotografia e fotojornalismo. Ela deixou um legado de conhecimento através de suas fotografias. É reconhecida por retratar em suas fotos o sentimento das pessoas e ensinar em sala de aula o lado humano do jornalismo.

Seu olhar único para registrar os movimentos sociais do Oeste catarinense era sua marca registrada, o que possibilitou a ela registrar também, vários momentos do povo chapecoense e o desenvolvimento da cidade com muita sensibilidade. Tornou-se uma das referências na área do fotojornalismo. O seu trabalho ficou imortalizado através dos seus ensinamentos e das obras publicadas, como o livro 'A Terra é Vida'.  

A atual professora de fotografia e fotojornalismo do curso, Angélica Lüersen, que foi aluna e estagiou junto da Eliane no laboratório P&B (Preto e Branco), descreve ela como uma grande amiga. "A Eliane era uma pessoa muito sensível, muito verdadeira, super alto astral e tinha uma energia boa, ela era um pouco esotérica. Também sempre foi uma pessoa bastante atenta e atenciosa com os alunos", conta. Angélica descreve que a fotojornalista não era sensível apenas em relação à composição, mas também às temáticas da fotografia.

"Grande parte do acervo fotográfico dela tem esse universo das manifestações sociais e políticas, das pautas sociais, então o trabalho é riquíssimo nesse universo discursivo do social", relata.

A professora Angélica frisa que a Eliane conseguia construir esse olhar humanizado com os acadêmicos. “Ela fez com que muitos de nós, estudantes do curso, tivéssemos essa forma, desenvolvessem essa habilidade em relação a fotografia. Ela era uma pessoa de espírito livre, então instigou muito isso em nós, para que a gente tivesse um olhar liberto, que se desafiasse, fizesse outra coisa, além do comum”, recorda. 

>> Leia mais: CEOM recebe acervo da fotojornalista Eliane Fistarol <<

Galeria 

A Galeria de Arte Eliane Fistarol foi idealizada pelo grupo de pessoas que organiza a Nossa Maloca. Uma das organizadoras,Tatiana Zawadzki, destaca que devido a demanda dos projetos realizados, a ideia foi ganhando força. “Sempre houve interesse dos artistas visuais integrantes do instituto ou amigos que sugeriram expor seus trabalhos nos eventos. Algumas exposições foram acomodadas no teatro e biblioteca 'Chica Pelega' ou no 'Bosque Manoel de Barros', mas acreditávamos que era preciso ter um espaço adequado para valorizar as obras e os artistas”, salienta.  

A inauguração da primeira exposição na Galeria de Arte Eliane Fistarol, denominada '180', foi produzida por Camila Almeida e ocorreu no dia 8 de abril. Camila é fotógrafa e artista visual. Ela explica que a Nossa Maloca percebeu e entendeu a falta de espaço e acolhimento que havia aqui na região. Devido a essa carência a galeria de arte se concretizou. “A exposição, que é minha e dos meus colegas, abriu esse espaço que também é para todos os artistas. Então a galeria Eliane Fistarol abraça a comunidade, esses trabalhos e faz com que eles cheguem a todos”, ressalta. 

Na busca por um nome para a galeria, diversos foram citados. Porém, quando foi apresentado o nome Eliane Fistarol o grupo foi consenso. Como explica Tatiana, a proposta era de um alguém que tivesse os ideais do instituto. “Essa pessoa precisava promover a cultura por meio de diversas atividades que tenham  relevância pública e social. Tínhamos em mente valorizar alguém com essa pauta em sua trajetória”, complementa. Tatiana destaca que a Eliane era amável e dedicada, além do seu trabalho ter grande relevância para a região.

“Ela foi uma das pioneiras em fotografar os principais movimentos sociais e políticos das décadas de 80 e 90, além de trabalhos pela causa indígena e pelos atingidos pelas barragens. Foi uma mulher à frente de seu tempo, apaixonada pela fotografia e generosa ao ensinar a sua arte para centenas de pessoas e seu acervo constitui uma documentação fotográfica importante para nossa região. Merece nosso reconhecimento”, conclui. 

Como primeira exposição na galeria de arte Eliane Fistarol, Camila apresentou seu trabalho '180' através da poética, com muitas costuras, linhas e reparos. Ela conta sobre a sensação de realizar essa exibição. “É sempre uma alegria abrir uma exposição e compartilhar o nosso trabalho, a nossa pesquisa com a comunidade”, relata. 

Camila acredita na importância do trabalho coletivo realizado por eles na Nossa Maloca, pois são portas que são abertas para muitos trabalhos que estão por vir. “Abrir uma galeria para mim é a abertura de uma nova possibilidade de mundo, de visão e de experiência artística transformadora, porque a partir do momento que a pessoa visita uma exposição ela não sai de lá a mesma de quando ela entrou. Fico extremamente feliz e honrada”, finaliza.  

Exposição 180

O trabalho exposto foi premiado pelo Prêmio Elisabete Anderle, no ano de 2022, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação, com o apoio do Núcleo de Apoio Pedagógico e Produção Braille (NAPPB). Já a impressão é da Associação dos Deficientes Visuais do Oeste de Santa Catarina (Adevosc). Camila relata que o seu trabalho envolve dor, denúncia, esperança e mudança. “Esse corpo costurado, restaurado, esse corpo que tá rasgado, machucado, esse corpo que acha um novo mapa, que traça uma nova rota, e a partir disso cria uma nova roupagem”, descreve. 

Outro destaque da exposição é as artes visuais terem sido feitas para pessoas cegas. “Essa exposição é sensitiva, a gente quis trabalhar com sensações e as pessoas cegas sentem pelo ouvido, pelo cheiro, pelo tato. Então todas as fotografias são tateaveis, têm texturas, podem ser sentidas com as mãos. Todos os textos, tanto as legendas quanto a própria explicação da imagem você tem a transcrição para o braille”, frisa. 

O projeto '180' possui o corpo de Camila como suporte. “A partir do meu corpo eu conto a minha história que já passou por diferentes violências. Nós mulheres somos violentadas o tempo inteiro, se nós formos parar e analisar o nosso dia a dia. A partir do meu corpo e da minha história eu também trago e dou voz a muitas outras histórias que também falam sobre esse tema que é a violência contra a mulher”, salienta. 

 

* estagiários da ACIN-Jornalismo, sob supervisão da jornalista Eliane Taffarel.

Compartilhe

ELIANE FISTAROL

FOTOJORNALISMO

FOTOJORNALISTA

JORNALISMO

Nosso portal utiliza cookies necessários para o seu funcionamento e que permitem coletar dados anonimizados de navegação para que possamos medir e melhorar o desempenho do nosso website, além de observar hábitos de visita, que permitem lembrar suas preferências. Os cookies podem ser estabelecidos por nós ou por fonecedores externos cujos serviços adicionamos às nossas páginas. Além dos cookies, estão habilitados plugins de determinadas redes sociais que poderão tratar seus dados quando você optar por acessar o nosso site por meio delas.